A Festa das Santas Cruzes (1)

Na quinta-feira o rosmaninho era espalhado pelas ruas e o seu cheiro enchia as casas. A música começava a tocar e soavam os primeiros foguetes. Começava a Festa! O senhor padre benzia cada Santa Cruz e, ao cair da noite, íamos buscar São Bento à sua igreja (fora da vila), onde estivera retirado todo o ano. A procissão percorria a escuridão da noite, atravessando o campo, o caminho alumiado apenas pelas velas e pelas estrelas. A banda saudava à entrada da povoação e, cantando ao “Senhor São Bento” e pedindo que rogasse por nós, completávamos o percurso até chegar à Igreja de S. Francisco, no centro. O sermão encerrava este ato de fé de um povo, devoto do seu S. Bento, e regressávamos a casa, já a lua ia bem alta no céu.


“Pedimos a uma voz:
Senhor São Bento, rogai por nós!

São Bento de Vila Nova
Que está no seu altar,
Todo lá vamos ajoelhar
E a cantar, e a cantar vamos rezar.” (Cante religioso, tradicional do Baixo Alentejo)

A devoção a São Bento é anterior à fundação de Aldeia Nova de S. Bento. O seu nome foi dado à freguesia em sentida homenagem, bem como em agradecimento por inúmeras graças obtidas, nomeadamente nas guerras contra o país vizinho. Mas disso falaremos noutro dia...

São Bento nasceu em Itália, no séc. V, no seio de uma rica família cristã. Cedo foi para Roma estudar mas, não contente com a vida que levava, tornou-se eremita. Refugiou-se numa gruta, no meio da encosta e de muito difícil acesso, em Subiaco. Aí esteve alguns anos e dedicou-se à oração. Era alimentado por um monge de um mosteiro que ficava perto, que lhe descia a comida dentro de uma cesta. A sua fama de santidade espalhou-se e os monges elegeram-no abade do mosteiro. Esse cargo trouxe-lhe grandes dissabores e contrariedades, tendo ficado célebre o episódio em que um monge, movido pela inveja, tenta envenenar Bento. Quando este ía comer, um corvo levou o pão envenenado para longe, salvando a vida do santo.
São Bento fundou a congregação dos monges beneditinos, bem como inúmeros mosteiros por toda a Itália. A devoção a este santo trouxe-o até à Península Ibérica e tornou-o padroeiro de diversas povoações, entre elas Vila Nova de S. Bento.

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