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A mostrar mensagens de maio, 2019

Dia da Espiga

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O dia da espiga, ou quinta-feira da Ascensão, comemora-se antes do domingo onde a igreja recorda a ascensão de Jesus ao céu. Pensa-se, no entanto, que esta tradição é anterior ao cristianismo e era celebrada nesta época por ser o início da colheita. Nesse dia íamos ao campo colher espigas e fazer um raminho para levar para casa. Esse ramo era colocado a secar e ficava pendurado até ao ano seguinte. Lembro-me de ir "apanhar a espiga" com a minha professora primária, no caminho que vai até à Abóboda, passando pelo moinho velho. Colhiamos espigas, mas também malmequeres, papoilas e tantas outras plantas do campo, cada uma tinha o seu simbolismo. As espigas eram o pão, que não podia faltar na mesa; as papoilas o amor e a vida; os malmequeres simbolizavam a riqueza; o alecrim a saúde e força; e a oliveira representava a paz e a luz. " Venho-lhe dar um raminho Colhido da própria planta Para me dares amêndoas Quando for Sexta-feira Santa. Quinta-feira da Ascensão Sae

Na casa da Mãe Joana

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E pronto, os meus dias de sossego chegaram, definitivamente, ao fim. A Luisinha começou uma carreira prometedora no mundo das asneiras. Ontem fomos às compras e ela não esteve quieta um instante. Ora puxava vestidos das cruzetas (antes que perguntem: cruzetas são cabides), ora chuchava calças, tirava coisas dos lugares onde chegava... E no fim faz aquele ar de "sou um anjinho"... Depois desta odisseia em busca de roupas para ela, fomos jantar fora. A Luísa é muitíssimo curiosa (a roçar o cusco...) e não gosta de perder nenhum pormenor. Entre uma birra e outra fez estas caras fofinhas. Mas não se deixem levar pelo ar angelical de quem "não parte um prato". Estas fotografias foram momentos antes de conseguir sair da cadeira, o Carlos a apanhar antes de chegar ao chão, e de puxar a toalha da mesa, partindo um copo e espalhando Coca-Cola por cima de mim... Parece-me que esta miúda me vai fazer cabelos brancos mais depressa do que eu esperava...

A Baía dos Bomboteiros

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Durante a Festa da Flor foi possível assistir ao lindíssimo projeto da “Baía dos Bomboteiros”, da autoria de Luís Miguel Jardim, um excelente encenador cujo trabalho tenho acompanhado. Esta representação da baía do Funchal, no início do século XX, retratava a realidade dos bomboteiros e dos rapazes da mergulhança. Mas quem são esses? Que nomes esquisitos... Ouvi falar destes homens, pela primeira vez, pelas palavras da minha amiga Graça Alves, no seu livro “Constança, a surpresa”. Falava de uns homens que vendiam em barcos, e de uns rapazes que, em tempos de necessidade, se lançavam ao mar atrás de moedas. A Madeira, sendo uma ilha, sempre esteve intimamente ligada ao mar e, tendo uma localização estratégica, era frequentemente local de paragem no caminho para terras distantes. Quem vinha a bordo precisava de se abastecer e pensa-se, por isso, que cedo começou esta prática. Porém, só no século XVIII aparecem as primeiras referências ao bombote. Esquemas embarcações, apinhadas de mer

Divagações matinais

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O que dá ter uma filha que acha que seis da manhã é boa hora para brincar. Depois do pequeno-almoço volta a dormir como um anjo e o que faz a mãe??? Percebe que estás a ficar assustadoramente parecida com a sua mãe quando, estando a Luisinha a dormir, em vez de “sofázar”, ler, ver tontices na televisão ou pura e simplesmente não fazer nada......... resolve lavar, limpar, estender.... Enfim, quem me viu e quem me vê. 😂😂😂

Lenda de Aldeia Nova de São Bento

A nossa história é como uma manta de retalhos. Dela fazem parte as histórias que vivemos, as que nos contaram, as que mais nos tocaram... Da minha manta fazem parte muitas, muitas histórias. Gosto de as ler, de as ouvir contar, e de guardá-las no coração. Enchem-me a alma, aquecem-me nos dias frios e confortam-me nos serões de inverno... como uma manta de retalhos. Hoje vou contar-vos uma que me é particularmente querida, a lenda da minha terra: Vila Nova de São Bento. Foi-me contada pela minha professora primária (e hoje, amiga), a Dona Maria Justa. Mais tarde coube-me o papel de a transmitir e fiz um vídeo muito ternurento, com os meninos do Pré-escolar de Vila Nova, numa altura em que desenvolvi o projeto “Tocar, Cantar e Encantar” (que levava a música e as histórias a estas crianças), e que partilho convosco. Mas chega de conversa... vamos à lenda. Há muitos anos atrás havia três aldeias: a Abóboda, a Aldeia de Cabeço de Vaqueiros e a Aldeia da Fonte do Canto. Na aldeia de

Festa da Flor

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Desde pequena que ouço falar da Festa da Flor. A minha avó Chica nunca lá foi mas falava-me dela como se sempre lá estivesse estado. No dia do desfile não desviava o olhar da televisão, absorvendo todos os pormenores, admirando cada detalhe... Para ela, esta festa “é um sonho”...        A Madeira é conhecida como a “ilha da eterna primavera”, a “pérola do Atlântico”, e não há quem não saiba que “a Madeira é um jardim”. Não é por isso de estranhar que uma das suas festas mais famosas seja a Festa da Flor. Ocorre em plena primavera, depois da Páscoa, celebrando a vida e a alegria do renascimento. Esta festa teve início em 1954, no Ateneu Comercial do Funchal, onde se realizou a Festa da Rosa. Este evento contou com uma exposição de flores, onde foram premiadas as melhores. Este concurso teve tão boa aceitação que se voltou a repetir, e a repetir, ganhando outras dimensões, passando a estar a cargo do Governo Regional e designando-se Festa da Flor.        Atualmente, esta festa conta co

Lenda de Machim

Ufa.... Que semana agitada! Não tenho conseguido escrever nada. Prometo que ainda este fim-de-semana falo da Festa da Flor mas, para vos consolar, deixo uma lenda bastante conhecida na Madeira que fala precisamente do descobrimento da mesma. E porque estamos a comemorar os 600 anos desta descoberta, a preparar teatros, exposições e mais uma edição do Mercado Quinhentista, deixem-se deslumbrar pela história destes dois enamorados. " Lendas de Machim sobre o descobrimento da ilha da Madeira (Recolhida em Machico)        Ligado não só às origens da Ilha da Madeira como também a uma outra motivação para o nome de Machico, há uma lenda de amores infelizes. Contamo-la segundo Fernando Aguiar, que se valeu não só da tradição oral como também de dois manuscritos, sendo um de Henrique Henriques de Noronha e outro do Jerónimo Dias Leite, ambos historiadores do séc. XVI.        No tempo do rei Eduardo III, residiam em Londres um certo Roberto Machim, jovem burguês de bom trato, e cer

O meu primeiro Dia da Mãe

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Hoje é um dia especial. Por isso mesmo, vou publicar o segundo texto do dia. Vou-vos falar da maior e melhor missão que Deus me deu: ser mãe. Sempre quis ser mãe. Esse desejo acompanhou-me desde sempre. Chorei de alegria quando o teste deu positivo e esperei a minha filha com grande expectativa, cheia de ideias românticas e cor-de-rosa de como seria a maternidade, imaginando tardes de sábado a fazer biscoitos. Hoje sou mãe e não tenho certeza de quase nada (à exceção dos biscoitos que hei-de fazer com ela). Quando penso no início desta minha aventura penso sempre na expressão “sangue, suor e lágrimas”. De facto, o parto foi a parte mais fácil. A Luisinha apanhou uma infeção durante o parto e, quando nasceu, foi-me “apresentada” à pressa e foi levada para a Neonatologia. Não tivemos aquele momento mágico e tantas vezes imaginado em que ela me era colocada no colo e ficava a olhar para ela enquanto o tempo parava. Fui para o quarto sozinha. É uma solidão tão grande chegar ao quarto

O Divino Espírito Santo

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Depois do Domingo de Páscoa, na Madeira, começam as visitas do Divino Espírito Santo. A cada domingo, um grupo vestido de vermelho, com música e bandeiras, dirige-se a um sítio da freguesia para levar o Espírito Santo a quem o quiser receber. Eu vivo no sítio do Massapez e é duas semanas depois da Páscoa que recebemos esta visita pascal. O grupo que acompanha as insígnias do Divino Espírito Santo é constituído por senhores que as transportam, bem como a uma coroa adornada com flores, duas meninas trajadas a rigor, as saloias, e músicos. A sua tarefa começa bem cedo porque têm que percorrer quase todas as casas do sítio. Ao longo do dia soam foguetes na vizinhança, as famílias reunem-se, há grande azáfama nas cozinhas e muita animação. Quando chega o Espírito Santo, recebemos a comitiva na sala, onde temos uma mesa com doces, licores e outras delícias para oferecer aos visitantes. Recebemos a bênção, as saloias cantam e a oferta é feita e depositada na coroa. Depois da música de despe

A Festa das Santas Cruzes (2)

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Na sexta-feira à noite o Cante sai em passeio. A noite enche-se desse som melancolicamente belo. As vozes juntam-se, percorrem as ruas e, de cruz em cruz, pela noite fora, vão cantando modas antigas que vivem há gerações na memória de quem as canta. “ Rosmaninho deixa o campo Vem a ver a Santa Cruz. Vem a ver lindos altares Onde se encontra Jesus. Ou a cruz está bem composta Ou foi a fé que lhe eu pus. Benditas sejam as mãos Que comporam esta cruz. Que Santa Cruz tão bonita No altar de São João. Não há-de ela estar bonita Com tanta rosa em botão? Que Santa Cruz tão bonita No altar de São Manuel. Não há-de ela estar bonita Com tanta rosa em papel? Toda a Cruz que é de promessa Devia- a ver toda a gente Que ela é feita na esperança De curar quem está doente .” (Cante às Santas Cruzes, tradicional de Vila Nova de S. Bento) Uma Santa Cruz é uma profissão de Fé. Quando alguém faz uma Santa Cruz deposita nessa árdua tarefa a esperança ou a gratidão de uma promessa

A Festa das Santas Cruzes (1)

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Na quinta-feira o rosmaninho era espalhado pelas ruas e o seu cheiro enchia as casas. A música começava a tocar e soavam os primeiros foguetes. Começava a Festa! O senhor padre benzia cada Santa Cruz e, ao cair da noite, íamos buscar São Bento à sua igreja (fora da vila), onde estivera retirado todo o ano. A procissão percorria a escuridão da noite, atravessando o campo, o caminho alumiado apenas pelas velas e pelas estrelas. A banda saudava à entrada da povoação e, cantando ao “Senhor São Bento” e pedindo que rogasse por nós, completávamos o percurso até chegar à Igreja de S. Francisco, no centro. O sermão encerrava este ato de fé de um povo, devoto do seu S. Bento, e regressávamos a casa, já a lua ia bem alta no céu. “Pedimos a uma voz: Senhor São Bento, rogai por nós! São Bento de Vila Nova Que está no seu altar, Todo lá vamos ajoelhar E a cantar, e a cantar vamos rezar .” (Cante religioso, tradicional do Baixo Alentejo) A devoção a São Bento é anterior à fundação de Alde

Entre a planície e o mar...

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Nasci alentejana. O meu coração está enraizado na imensidão da planície e na lonjura dos horizontes distantes. Mas as oportunidades, as coincidências ou a providência Divina (como preferirem) trouxeram-me para o outro lado do mar, fizeram-me aterrar na Madeira e a ilha dividiu-me o coração. Agora o horizonte vê o mar e a serra. Em vez de planícies a perder de vista, tenho o rochedo da Penha de Águia. Em vez de searas e de campos de girassóis, tenho o mar imenso... Esta é a minha história, ou parte dela. Com o coração eternamente dividido, entre a planície e o mar... E é com grande prazer e alegria que a partilho convosco.