Lenda de Machim

Ufa.... Que semana agitada! Não tenho conseguido escrever nada. Prometo que ainda este fim-de-semana falo da Festa da Flor mas, para vos consolar, deixo uma lenda bastante conhecida na Madeira que fala precisamente do descobrimento da mesma. E porque estamos a comemorar os 600 anos desta descoberta, a preparar teatros, exposições e mais uma edição do Mercado Quinhentista, deixem-se deslumbrar pela história destes dois enamorados.

"Lendas de Machim sobre o descobrimento da ilha da Madeira
(Recolhida em Machico)

       Ligado não só às origens da Ilha da Madeira como também a uma outra motivação para o nome de Machico, há uma lenda de amores infelizes. Contamo-la segundo Fernando Aguiar, que se valeu não só da tradição oral como também de dois manuscritos, sendo um de Henrique Henriques de Noronha e outro do Jerónimo Dias Leite, ambos historiadores do séc. XVI.
       No tempo do rei Eduardo III, residiam em Londres um certo Roberto Machim, jovem burguês de bom trato, e certa dama donzela chamada Ana de Arfet, que pertencia à nobreza. Numa festa pública quis o acaso que se conhecessem e se enamorassem. Porém, dada a desigualdade de nascimento, que naquele tempo se olhava muito a isso, eles mantiveram o segredo enquanto puderam. Porém, quando este foi conhecido, logo os pais da jovem decidiram casá-la com um jovem da nobresa na cidade de Bristol.
Os amigos de Roberto decidiram ajudar este a raptar a jovem e, aproveitando uns festejos noturnos na cidade, aonde se realizaria o  casamento, conseguiram roubar um pequeno navio e, com os namorados a bordo, fizeram-se ao mar. Eram, no entanto, mais corajosos que destros em marinhagem e, para pouca sorte, mal se fizeram ao largo, logo uma tempestade assolou. Eles bem se queriam aproximar da costa francesa, onde estariam a salvo. O destino é que lhes não fez a vontade e passaram duas semanas na maior tormenta até que, ao décimo quarto dia, se viram diante de terra. De uma terra maravilhosa, muito arborizada, onde não se via ninguém. Era uma baía aberta em forma de boca de caranguejo. Saíram a terra e entraram na floresta, onde repousaram em terra firme.
       Daí a algum ternpo, alguns dos amigos de Roberto e de Ana quiseram partir e levaram o barco, tendo ido parar à costa de Africa, onde foram aprisionados pelos mouros. Naturalmente, nunca mais regressaram e Ana sofreu com aquela perda, dando-os como mortos. Ela própria estava tão fragilizada pela viagem que não resistiu, falecendo. O namorado, abatido pela dor, durou apenas mais dois ou três dias.
       Os companheiros sepultaram-nos sob um grande cedro e decidiram fazer-se ao mar na jangada que improvisaram. Quis o destino que caíssem nas mãos dos mouros, que tinham muitos outros prisioneiros. Entretanto, morreu em Espanha um fidalgo que legou toda a sua enorme fortuna para a libertação de cativos espanhóis e um destes escutara a história de Roberto e Ana, e mais importante do que isso, a existência da bela ilha, a Ilha da Madeira. Pois esse prisioneiro espanhol, que era soldado, acabou por ser feito prisioneiro e levado para Portugal, chegando à fala com Gonçalves Zarco e ter-lhe-á revelado a história que lhe fora contada pelos aventureiros ingleses.
O resto decerto já calculam..."

(Moutinho, José Viale (2011) Lendas das ilhas da Madeira e do Porto Santo, Funchal, Nova Delphi)

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